Por Elisabeta Mariotto
Acredita-se que João de Barros tenha nascido em Viseu, em 1496. No entanto, não existe prova histórica que comprove a data e o local do seu nascimento. Filho de um nobre, Lopo de Barros, teve a sua entrada facilitada na corte de D. Manuel I.
Tornou-se, ainda jovem, servidor do Paço Real e "moço do guarda-roupa" do então príncipe D. João III. Reconhecendo a capacidade do jovem, D. João III, logo que subiu ao trono, em 1521, concedeu a Barros o cargo de capitão da fortaleza de São Jorge da Mina, em África. No ano a seguir à sua nomeação, João de Barros partiu para assumir o seu posto, em África. Em 1525, já em Lisboa, foi nomeado tesoureiro da Casa das Índias, função que cumpriu durante três anos. Aquando da propagação da peste negra, em 1530, refugiou-se na sua quinta, em Ribeira de Alitém, próximo a Pombal. Regressou a Lisboa dois anos mais tarde, quando foi designado pelo rei para feitor da Casa das Índias e da Mina, uma posição de grande destaque e responsabilidade. João de Barros mostrou-se um administrador comprometido e honesto, algo raro para a época. Como resultado do reconhecimento do seu trabalho, recebeu de D. João III, em 1535, duas capitanias hereditárias no Brasil, no âmbito da política de fixação dos colonos no novo mundo. Construiu, com recursos próprios, uma armada de dez navios e novecentos homens, que partiram para o novo continente quatro anos mais tarde. No entanto, a expedição não foi bem-sucedida e não atingiu o objetivo pretendido. Demonstrando uma grande honestidade e um grande carácter, João de Barros arcou com as despesas daqueles que faleceram na expedição, indemnizando as famílias dos falecidos, o que resultaria na contração de uma grande dívida, com a qual teve que lidar por toda a sua vida.
Além de se dedicar à administração pública, João de Barros também interessou-se pelas letras. Muito influenciado pela filosofia humanista, Barros escreveu várias obras em que destacou a importância da língua como factor de fixação da soberania imperial. Segundo ele, a língua não é apenas uma realidade instrumental, mas um elemento que representa a consciência nacional e fortalece o sentimento de comunidade, sendo um elemento fundamental do modo de ser português. Publicou, em 1540, a segunda gramática da língua portuguesa, sendo precedido, apenas, por Fernão de Oliveira. Intitulada Grammatica da Língua Portuguesa, a gramática de Barros foi a segunda obra publicada, em Portugal, com o objetivo de normatizar a língua, tal como era falada naquele tempo. Além do carácter normativo de uma gramática, também tinha um carácter pedagógico, com o objetivo de ensinar e educar. Era uma obra que apresentava também diálogos morais, além de ilustrações e tinha o objetivo de ajudar no ensino da língua materna dos portugueses. João de Barros sempre apresentou um interesse pela pedagogia e o ensino. Um anos antes de publicar a referida gramática, já havia publicado uma cartilha conhecida como Cartinha de João de Barros. A cartilha era dedicada à alfabetização, contendo letras, "táboas" e combinações de letras que formavam sílabas e que colaboravam para a aprendizagem da escrita da língua portuguesa. Sempre acompanhada de ensinamentos morais, a cartilha de Barros também apresentava os mandamentos de Deus e da Igreja, acompanhados de algumas orações, à semelhança de um outro livro, também publicado em 1540, O Diálogo de João de Barros com dois filhos seus sobre preceitos morais.
Além destas obras, que colaboraram para o ensino e a normalização da língua portuguesa, João de Barros também escreveu obras que exaltavam os feitos dos portugueses no mundo. A primeira, A Crónica do Imperador Clarimundo, publicada em 1522, exalta a história de Portugal, que é tratado como "a clareza do mundo", uma terra que representa "a mãe de todo o esforço". Sempre exaltando os feitos de Portugal, Barros justificava a expansão ultramarina com argumentos espirituais, apresentando-a como uma cruzada religiosa contra os mouros. Em Décadas da Ásia, obra publicada em 4 volumes, sendo o primeiro de 1552, o autor narra as aventuras e as glórias do império português. É uma obra que impressiona pela sua riqueza informativa, narrando com muitos pormenores os feitos dos portugueses em África e, principalmente, na Ásia. O mais impressionante quanto aos detalhes informativos da obra é que Barros nunca teria ido à Ásia, tendo obtido as informações sobre esta terra à partir dos escravos provenientes do Oriente, que comprava no Terreiro do Paço e a quem pedia que lhe descrevessem as terras de onde provinham. É considerado um grande historiador devido à quantidade de informações sobre a história de Portugal que concentrou nos seus livros.
Consta que, em janeiro de 1568, sofreu um acidente vascular cerebral e foi exonerado das suas funções na Casa da Índia, recebendo título de fidalguia e uma tença régia do rei Dom Sebastião. Faleceu, dois anos mais tarde, na sua quinta de Alitém. Tendo-se endividado por causa da expedição fracassada de 1539, nunca conseguiria recuperar-se financeiramente, morrendo na mais completa miséria, sendo tantas as suas dívidas que os filhos renunciaram ao seu testamento.
Bibliografia ativa
- Infopédia (2003-2012) João de Barros. Porto: Porto Editora. http://www.infopedia.pt/$joao-de-barros,2
- Rocha, H. F. (2005). Alfabetizar Letrando: Um Repensar da Aquisição da Língua Escrita. Petrópolis.
Ministério da Educação de Portugal. Breve Evolução Histórica do Sistema Educativo. In: Sistema Educativo Nacional de Portugal. http://www.oei.es/quipu/portugal/historia.pdf - Calafate, P. (2006). Séculos V-XVI : a afirmação de um destino coletivo. Lisboa : Fundação Luso-Americana.
Bibliografia Passiva
- Barros, J. (1540). Grammatica da Língua Portuguesa. (versão digital)
- Barros, J. (1522). Crónica do Imperador Clarimundo. (versão digital)
- Barros, J. (1532). Rhopicapneuma ou Mercadoria Espiritual.
- Barros, J. (1540). Diálogo da Viciosa Vergonha. (versão digital)
- Barros, J. (1540). Diálogo sobre Preceitos Morais. (versão digital)
- Barros, J. (1543). Diálogo Evangélico sobre os Artigos da Fé.
- Barros, J. Décadas da Ásia. Volumes I (1552), II (1553), III (1563) e IV (1615). (versão digital)
- Barros, J., Couto, D. (1777-1788). Da Ásia de João de Barros e de Diogo do Couto: dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento dos mares e terras do Oriente. Lisboa: Na Régia Officina Typografica.
- Calafate, P. (1991). A filosofia da história no renascimento português: João de Barros. In: Homenagem a Vieira de Almeida. Lisboa : Faculdade de Letras da Univ. de Lisboa, p. 137-150.
- Cantarino, N. (2006). O idioma nosso de cada dia (texto parcial). Revista de História da Biblioteca Nacional. In: Revista de história.