Um total de 85% dos cidadãos da União Europeia considera que, apesar da crise económica atual, a Europa deve continuar a ajudar os países em desenvolvimento, mas Portugal foi um dos países onde essa solidariedade mais caiu, segundo os dados avançados por uma nota de imprensa do serviço Rapid da Comissão Europeia.
As conclusões do novo inquérito Eurobarómetro foram anunciadas a 16 de outubro pelo Comissário Europeu do Desenvolvimento, Andris Piebalgs, por ocasião das Jornadas Europeias do Desenvolvimento.
O inquérito sobre a ajuda ao desenvolvimento revelou que 61% dos cidadãos europeus são favoráveis ao aumento do auxílio concedido pela UE para ajudar as pessoas a sair da pobreza. Simultaneamente, uma maioria de 55% dos cidadãos considera que os países emergentes em rápido crescimento deveriam deixar de beneficiar dessa ajuda. A maioria dos cidadãos (61%) defende que a ajuda se deve centrar nos países mais frágeis, nomeadamente naqueles que tenham sido vítimas de conflitos ou de catástrofes naturais.
Os cidadãos europeus encaram positivamente o papel das empresas privadas nos países em desenvolvimento, sobretudo no que respeita à criação de emprego (57%), mas esperam igualmente que as empresas estrangeiras respeitem os valores morais e éticos quando efetuam os seus investimentos (81%).
Uma maioria de 53% dos inquiridos considera a corrupção o principal obstáculo ao desenvolvimento nos países pobres. No entanto, apenas 44% dos cidadãos estariam dispostos a gastar pessoalmente mais dinheiro em produtos que promovem o desenvolvimento (nomeadamente, os produtos do comércio justo).
«É muito encorajador constatar que a solidariedade permanece um valor profundamente enraizado na maioria dos europeus apesar de a sua situação económica se ter agravado», declarou o comissário responsável pelo Desenvolvimento, Andris Piebalgs.
«A UE está prestes a aprovar o orçamento para os próximos sete anos e as pessoas enviaram uma mensagem clara aos seus dirigentes: as poupanças não devem ser efetuadas à custa das pessoas mais pobres do planeta. Os cidadãos pedem, por outro lado, maiores garantias de que a ajuda beneficia efetivamente os mais pobres e produz resultados concretos», acrescentou Piebalgs
Principais tendências na UE
A crise económica não afetou a solidariedade para com as populações mais carenciadas, afirma-se na nota de imprensa. Em Espanha, o nível de apoio à ajuda às populações mais pobres não sofreu qualquer alteração desde o ano passado (88%). Na Grécia e na Itália a diminuição foi mínima (‑2 pontos percentuais), enquanto na Irlanda o apoio aumentou 3 pontos percentuais, passando para 88%. Só em Portugal (-10 pontos) é que o declínio foi mais acentuado.
Já o empenho pessoal dos cidadãos europeus diminuiu, com apenas 44% dispostos a pagar mais por produtos (por exemplo, do comércio justo) que permitam ajudar as pessoas do mundo em desenvolvimento (3% menos que em 2011).
Em seis países da UE registou-se um declínio de, pelo menos, 10 pontos percentuais, na disponibilidade dos cidadãos para pagarem mais: Grécia (estão dispostos a gastar mais 33% dos cidadãos), República Checa (28%), Eslovénia (30%), Espanha (35%), Lituânia (24%) e Portugal (12%). Como seria de esperar, os cidadãos dos países mais ricos mostram-se mais disponíveis para adquirir produtos do comércio justo. No topo da lista figuram a Suécia (76%), os Países Baixos (76%) e o Luxemburgo (70%).
Quanto ao aumento do financiamento da ajuda ao desenvolvimento, ele é mais bem acolhido no noroeste europeu, sendo o apoio inferior no sudeste da Europa.
O apoio à concessão de ajuda às pessoas pobres dos países em desenvolvimento continua a ser muito elevado: 85% (88% em 2011). 37% dos cidadãos consideram-no «muito importante» e 48% «bastante importante».
Seis em cada dez europeus consideram que, apesar da crise, se deveria aumentar a ajuda aos países em desenvolvimento. 49% dos inquiridos consideram que a UE deve cumprir a promessa de aumentar a ajuda aos países em desenvolvimento. 12% consideram que a ajuda deveria ser aumentada ainda mais do que o prometido. Por outro lado, 18% dos inquiridos defendem que a ajuda deveria ser reduzida por a Europa já não ter condições para a pagar. Este valor registou um aumento de 7 pontos percentuais desde 2009 (quando era de 11%).
61% dos europeus consideram que a prioridade deve ser atribuída aos países mais vulneráveis (por exemplo, em virtude de conflitos ou de catástrofes naturais). 30% dos inquiridos consideram que a UE deve ajudar os países em desenvolvimento independentemente de se encontrarem ou não em situação de fragilidade.
A maioria dos europeus defende que países como o Brasil, a Índia ou a China deveriam deixar de beneficiar de ajuda. Questionados sobre se os países emergentes em rápido crescimento, em que uma parte da população ainda é pobre, deveriam continuar a beneficiar de ajuda, 24% dos inquiridos discordam totalmente e 31% tendem a discordar.
Os europeus consideram que a ajuda ao desenvolvimento deve incidir principalmente nos direitos humanos (34%), na educação (33%), na saúde (32%), no crescimento económico (29%) e na agricultura/segurança alimentar (29%). A pergunta permitia optar por três respostas.
Um total de 44% dos europeus mostra-se disponível para gastar mais dinheiro em produtos que ajudem as populações dos países em desenvolvimento, uma diminuição em relação aos 47% registados em 2011. Consequentemente, o número de pessoas não disponíveis para gastar mais passou de 47% para 52%.
Corrupção é o maior obstáculo
Um total de 53% dos europeus considera a corrupção o maior obstáculo ao êxito do desenvolvimento. Os outros principais obstáculos identificados foram «as más políticas» dos governos dos países em desenvolvimento (41%) e os conflitos (33%). A pergunta permitia escolher, no máximo, três respostas.
A maioria das pessoas considera que o principal papel do setor privado é a criação de emprego (57%), a promoção do crescimento (42%) e o intercâmbio/progresso tecnológico (29%). Uma minoria considera que o setor privado explora os países em desenvolvimento (27%) ou está envolvido em casos de corrupção (21%). A pergunta permitia optar por três respostas.
81% dos inquiridos consideram que as empresas privadas revelam responsabilidade social e ética quando investem nos países em desenvolvimento. 87% consideram que os doadores como a UE deveriam procurar assegurar que as empresas privadas respeitam as normas sociais e éticas.
Este inquérito Eurobarómetro foi realizado pela TNS Opinion & Social, entre 2 e 17 de junho de 2012. Foram entrevistados 26 622 cidadãos europeus com mais de 15 anos, através de entrevistas pessoais efetuadas no domicílio.
Para mais informações:
O Eurobarómetro especial pode ser consultado no seguinte endereço: http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb_special_399_380_en.htm#392
Resultados específicos por país: http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb_special_399_380_en.htm#392
Sítio Internet do Comissário para o Desenvolvimento, Andris Piebalgs: http://ec.europa.eu/commission_2010-2014/piebalgs/index_en.htm
Sítio Internet da Direção-Geral do Desenvolvimento e da Cooperação EuropeAid: http://ec.europa.eu/europeaid/index_en.htm
Sítio Internet das Jornadas Europeias do Desenvolvimento: http://eudevdays.eu/