Trabalhos de 25 autores da ilustração portuguesa vão estar em exposição na 49ª Feira do Livro Infantil de Bolonha (FLIB), um certame destinado a profissionais do setor editorial, que vai decorrer de 19 a 22 de março naquela cidade italiana, e no qual Portugal é o país convidado.
Como as Cerejas é o título da mostra que reúne nomes de novíssimos a consagrados autores selecionados por Ju Godinho e Eduardo Filipe, promotores da Ilustrarte e comissários da participação portuguesa no evento Portugal-Bolonha 2012. O título da exposição dos ilustradores «evoca o imaginário da infância e lembra que, se ‘as conversas são como as cerejas’, os bons livros também», escreve-se na página de internet dedicada à presença portuguesa na feira.
Para os organizadores, o convite a Portugal será «uma ocasião importante de reflexão sobre a cultura portuguesa, de tradição ibérica, menos conhecida internacionalmente do que a cultura espanhola, mas igualmente importante pelo seu contributo literário e pela sua história».
Portugal estará representado na FLIB com um stand da Direção-geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB), «quatro vezes maior do que o habitual», que apresenta uma seleção de uma centena de livros infantis de autores portugueses publicados entre 2010 e 2012 e outra de 44 obras publicadas no estrangeiro com o seu apoio e destinadas ao público infantil, de que fazem parte nomes como Alice Vieira, Sophia de Mello Breyner Andresen, Isabel Minhós Martins, André da Loba, Teresa Lima, Luís Diferr e José Carlos Fernandes, entre outros.
Apesar de mais espaçoso, o stand apenas terá em exposição as seleções de livros da DGLB. Os editores portugueses foram convidados a «usar o espaço de outras maneiras», com lançamentos, sessões de autógrafos, divulgação do seu catálogo e reuniões para a compra e venda de direitos.
Outros stands
A Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e seis pequenas editoras «independentes» - Pato Lógico, Gatafunho, Tcharan, Bags of Books, Trinta por uma Linha e Edições Eterogémeas – vão, no entanto, estar presentes com stands próprios na feira.
Belas-Artes, que será representada em Bolonha por dois professores e artistas plásticos ligados ao ensino da ilustração, Pedro Saraiva e Manuel San Payo, pretende «dar a conhecer potenciais talentos junto dos milhares de visitantes da feira». Nesse sentido, o espaço da faculdade «será ‘forrado’ com reproduções de trabalhos desenvolvidos nas disciplinas de Ilustração das licenciaturas de Desenho, Design de Comunicação e Pintura, ao longo dos últimos anos».
Já as seis editoras, com um stand de 16 m2, querem «vender direitos dos respetivos catálogos», obtendo uma «redução de custos considerável» da presença conjunta. «Somos um país pequeno, porque é que havemos de estar cada um para o seu lado?», lança João Manuel Ribeiro, editor da Trinta por uma Linha, para explicar a criação do que é descrito como um «consórcio» por André Letria, ilustrador fundador da Pato Lógico.
Com esta aliança, há ainda a vantagem adicional de se satisfazer uma das condições para se poder concorrer aos prestigiados prémios da FLIB: a presença das editoras com stand próprio, segundo explica na página da participação portuguesa na FLIB Adélia Carvalho, escritora e editora da Tcharan. Estas seis pequenas editoras têm vários nomes dos seus catálogos presentes na exposição dos 25 ilustradores portugueses, nomeadamente João Vaz de Carvalho, André da Loba, Gémeo Luís, Marta Madureira e o próprio André Letria, que vai ainda integrar o júri do prémio ‘Bologna Ragazzi Digital Award’. Este prémio, pela primeira vez atribuído, é destinado a galardoar editores que desenvolvem aplicações para suporte digital de histórias para crianças.
O convite para fazer parte do júri inviabilizou que Letria figurasse, entre as dezenas de candidaturas de 16 países ao prémio, com as versões para iPad dos livros Estrambólicos e De Caras, mas o editor mantém a intenção de lançar os dois projetos em Bolonha, segundo declarações suas, referidas na página da participação portuguesa na feira.
«O mais importante acontecimento»
Na feira - adianta ainda a página - estão já confirmadas as presenças no Café dos Autores dos escritores José Jorge Letria, Isabel Minhós Martins, Afonso Cruz e António Torrado, este último lançando um dos seus mais de 140 livros publicados, agora traduzido para italiano (Cinco Sentidos e Outros). Torrado, «um dos nossos nomes maiores da literatura para crianças», passou pela FLIB nas décadas de 1970 e 80 como editor.
Outro lançamento previsto, referido pelo sítio, é uma coleção de textos de Fernando Pessoa para os mais novos e ilustrada por Henrique Cayatte, um dos nomes integrantes da exposição Como as Cerejas.
Em paralelo aos eventos no seu recinto, a feira espalha-se por Bolonha e é assim que se poderá ver uma exposição individual do ilustrador português Bernardo Carvalho, co-fundador do Planeta Tangerina (Prémio Nacional de Ilustração 2009 com o livro Depressa, Devagar) para o projeto da Associação Cultural Hamelin. Esta associação convida anualmente um «ilustrador de renome» a «conceber a sua visão desenhada da cidade». O projeto contempla a edição de uma brochura a preto e branco, de distribuição gratuita, com desenhos para colorir.
Outros quatro ilustradores terão trabalhos seus expostos em lojas de eleição no itinerário comercial da cidade. São eles Teresa Lima, André da Loba, André Letria e João Vaz de Carvalho, segundo a organização da participação portuguesa.
A oportunidade de Portugal mostrar, como país convidado, «o melhor da atual produção editorial com assinatura de autores portugueses, com destaque para a ilustração», surgiu depois da desistência «de última da hora da Austrália» e teve em conta o «êxito» da exposição Ilustrações.pt, comissariada por Ju Godinho e Eduardo Filipe. Esta dupla mostrou em Bolonha, em 2008, 13 ilustradores para a infância no âmbito da programação paralela da FLIB, numa exposição que depois fez itinerância pela Europa «aumentando a visibilidade dos ilustradores portugueses, cada vez mais requisitados e premiados internacionalmente», segundo o sítio da página dedicada à participação portuguesa na feira de Bolonha.
Apoios
Cerca de 5.000 profissionais do setor, 66 países participantes e mais de 600 jornalistas são alguns dos números avançados para a próxima edição daquele que é «o mais importante acontecimento da indústria do livro e multimédia direcionado para o leitor infantojuvenil», no dizer do sítio.
Nesses dias, editores, autores, agentes literários, investigadores, livreiros, bibliotecários e outros promotores da leitura encontram-se para «estabelecer contactos, fechar negócios, promover o livro e tomar o pulso às tendências contemporâneas do mercado».
A participação portuguesa no certame deste ano tem um custo estimado de 120 mil euros, cobertos pela DGLB, parceiro oficial, e em dois terços pelo apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação EDP, Imprensa Nacional-Casa da Moeda e AGECOP (Associação para a Gestão da Cópia Privada) e Instituto Camões.