Durante anos, os independentistas de Casamansa representaram uma hipoteca sobre a estabilidade da democracia multipartidária no Senegal, um país sem grandes convulsões sociais, embora com uma persistente emigração para a Europa, com relações privilegiadas com a antiga potência colonial, a França, e onde as transições políticas têm decorrido pacificamente.
Número 128 · 30 de Julho de 2008 · Suplemento do JL n.º 987, ano XXVIII
Casamansa «está, agora, pacífica e pacificada», diz José Horta, leitor de Português na Universidade Cheikh Anta Diop (UCAD), que descreve aquela região do Senegal encravada entre a Gâmbia (Norte) e a Guiné-Bissau (Sul) como a sua «terra de adopção» e Ziguinchor, a capital, a cidade do Senegal onde se sente «mais em casa».
Casamansa e a vizinha Guiné-Bissau constituem um território com uma identidade própria, cujas populações fazem parte de um mesmo conjunto étnico e linguístico, o grupo sub-guineense, explica José Horta. A separação foi o resultado do acordo luso-francês, de 1886, no qual Portugal renunciou à bacia do rio Casamansa, incluindo o porto de Ziguinchor, e a França, em contrapartida, abandonou a área de Cacine.
«Os vestígios da presença portuguesa no passado são visíveis, por exemplo, em algum do património arquitectónico de Ziguinchor, mas sobretudo pelo facto de uma parte da população autóctone (geralmente identificada com a comunidade cristã) ter como língua materna um crioulo de base lexical portuguesa, afim do guineense, que constitui um forte factor de identificação e coesão. Curiosamente, no Senegal, estes crioulos, e sobretudo o cabo-verdiano, são muitas vezes confundidos com o Português, acreditando-se que se trata de uma mesma língua.»