Luanda: 50 anos do 25 de Abril | Exposição documental “Olhares do Sul”

Descrição

Vai ter lugar de 16 de abril a 22 de maio de 2024, no Camões - Centro Cultural Português em Luanda, a exposição documental “Olhares do Sul”.

Na semana seguinte ao 25 de abril de 1974, a Representação da Companhia de Diamantes de Angola (Diamang) em Luanda decide reunir e enviar jornais para arquivo junto da Administração em Lisboa. O objetivo desta decisão, referenciado numa comunicação confidencial com a sede, era explícito: informar do modo de sentir e interpretar da Imprensa de Angola no relativo aos acontecimentos correlacionados com a ação das Forças Armadas, que levou ao estabelecimento da Junta de Salvação Nacional.

O resultado desta iniciativa permite, hoje, vislumbrar “Olhares do Sul” representados pelas capas de jornais angolanos selecionados para exposição. A Revolução dos Cravos é um momento essencial na história recente de Angola e Portugal, pois marca o fim de uma das mais longas ditaduras europeias e a aceleração do processo de libertação. A luta anticolonial africana foi fator proeminente para a Revolução como se lê na frase inicial do manifesto do Movimento das Forças Armadas (MFA), grupo de militares portugueses organizadores da revolta. Logo não ser surpresa que o MFA iniciasse o seu programa dos “três D” com descolonizar, seguindo-se democratizar e desenvolver. Dito isto, a maioria da historiografia sobre o 25 de Abril centra-se em Portugal.

Esta exposição pretende descentrar-se das visões comuns de Lisboa, quer seja do Terreiro do Paço, do quartel do Carmo ou da Emissora Nacional, e apresentar uma perspetiva a partir de vivências de Luanda e dos seus bairros populares, ou de Benguela ou do Huambo. A presente exposição apresenta 50 capas dos jornais: A Província de Angola, Diário de Luanda, Jornal de Angola, O Angolense, A Tribuna dos Musseques, e O Comércio de Angola, no período entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Abril de 1975. Estes jornais fazem parte de uma coleção mais abrangente de recortes de imprensa (hoje designados por clipping) organizada pela Secção de Relações Públicas da Diamang ao longo de 60 anos (1928-1988).

O conjunto destes recortes abre várias janelas sobre o que foi a vivência do momento pós-revolução e permite perceber melhor o impacto e a reação imediata nestes territórios. E o que dizem as capas de jornais? Primeiro expõem a Revolução, novos atores e programas políticos, indicando também a preocupação com a manutenção da ordem. Nas semanas seguintes, rapidamente se avança para discussão sobre o futuro(s). As visões oscilam entre independência, autonomia ou federação. E, em paralelo, fala-se sobre a legitimidade política, discutem-se ideias de cidadania e da própria nação. Aos movimentos de libertação juntam-se novos intervenientes, como pequenos partidos, associações e sindicatos recém-formados. Nas páginas interiores, continuava-se a noticiar sobre a vida nas cidades, problemas urbanísticos, sanitários, greves e novos direitos, educação e religião, mas também sobre o lúdico, a cultura e desporto.

Os jornais no pós-25 de Abril mostram uma escrita mais livre e solta, com novos temas e espaço de opinião do cidadão comum, num corte com a escrita oficial anterior, onde não havia espaço para o contraditório. Não significa que os jornais não tivessem viés ideológicos ou vinculações políticas. Esta exposição é um passo para melhor caracterizar o período do pós-Revolução em Angola e Portugal e assim compreender o emergir de narrativas e memórias históricas sobre este período. Espera-se, pois, abrir novos caminhos interpretativos, dialogantes e integradores, nos quais a cidadania, o futuro, a nação e a memória continuarão a ser discutidos.

Curadoria e textos: Jorge Varanda (DCV, CRIA), Ana Margarida Dias da Silva (DCV, CHSC), Helena Freitas (DCV, CFE).