A Cátedra de Estudos Portugueses Fernando Pessoa, da qual já falei num número anterior (n.º 210, de 12 a 25 de novembro de 2014, suplemento da edição n.º 1151, ano XXXIV, do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias), foi criada em 2011 e tem procurado multiplicar o conhecimento, na Colômbia e não só, das múltiplas manifestações que conformam a idiossincrasia portuguesa no mundo (https://catedrapessoa.uniandes.edu.co/).
No espaço de que disponho, e numa altura incerta que obrigará a redefinir muitos planos e em que ficaram penduradas algumas atividades – um colóquio internacional sobre Ruy Belo, por exemplo, que ia decorrer na primeira semana de maio na Universidad de los Andes, em paralelo com atividades na Feira Internacional do Livro de Bogotá, FILBo 2020 - talvez não seja descabido lembrar alguns eventos recentes pelas suas repercussões e ainda propor uma maior integração das mais de 50 cátedras Camões no mundo, numa altura em que as novas tecnologias permitem eventos e publicações transnacionais.
Em 2015, José Tolentino Mendonça visitou a Colômbia pela primeira vez. A 1 de maio publicou em texto intitulado «Bogotá», no Expresso, sobre alguns alfarrabistas do centro da cidade: Torre de Babel e Merlín. Nesse ano, foi criado um Leitorado ou «silla profesoral», que permitiu reforçar, com o apoio do Camões, I.P., a presença da língua e da cultura portuguesas na minha Universidade. Foi um reforço, em todos os sentidos, que ainda agradeço.
Em 2016, a programação cresceu, passaram muitíssimos autores portugueses por Cartagena, Bogotá e Medellín, as memórias coloniais foram discutidas com Isabela Figueiredo, Dulce Maria Cardoso, João de Melo e Valter Hugo Mãe, entre outros. Lembro um ano intenso e de discussões públicas muito fortes.
Em 2017 celebramos a publicação de uma tetralogia de Gonçalo M. Tavares, El Reino, que mais tarde a Planeta quis também publicar; a Embaixada de Portugal na Colômbia começou a oferecer cursos de iniciação A1/A2; o Brasil e Portugal uniram-se para celebrar a língua portuguesa em diversos espaços culturais; e conseguimos que um autor, João Paulo Borges Coelho, fizesse a longa viagem Moçambique-Colômbia.
Em 2018 foram novamente muito os autores convidados. Valter Hugo Mãe viajou a Cali. Lídia Jorge e Margarida Cardoso deixaram memórias saudosas na Cinemateca de Bogotá. Augusto Santos Silva fez uma belíssima conferência sobre Pessoa na Universidad de los Andes.
2019 foi um ano musical (Maria João Pires, Teresa Salgueiro, Ana Moura, Jaime Reis), um ano de publicações importantes (Carolina Maria de Jesus, Adília Lopes) e de uma colossal programação na FILBo 2019.
E chegou este parêntese de 2020. A sensação de ser impossível ter 10 ou 20 convidados em certos eventos. A saudade por certas viagens. A vontade de voltar a criar pontes e conversas. Neste contexto e para terminar, devo ter uns 100 caracteres ainda, pergunto-me por modos de criar uma rede de redes, por unir via plataformas virtuais os vários «pontos» do Camões no mundo. Durante alguns meses ou anos talvez devamos publicar apenas no âmbito de uma grande biblioteca Camões e fazer eventos que integrem outros centros.
Este texto foi originalmente publicado no Encarte Camões n.º 283 de 15 a 28 de julho de 2020; suplemento da edição n.º 1299, ano XL, do JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias com a colaboração do Camões, I.P..