O poeta e nacionalista moçambicano João Mendes, falecido em Outubro passado, aos 86 anos, vai ser homenageado a 11 de dezembro em Maputo, numa sessão no Centro Cultural Português da capital moçambicana.
O objetivo da sessão é «traçar o perfil do João Mendes, o seu pensamento político, social, ético e filosófico», «o seu sentimento sobre a vida e a arte» e dar conta dos «percursos de um homem e de um artista que fez da sua coerência ética e do seu sentido de justiça social a bandeira da sua própria vida».
A sessão é promovida pela Associação Moçambicana da Língua Portuguesa (AMOLP), pelo Laboratório de Comunicação e Imagem ‘A Mundzuku ka Hina’, pelo jornal A Verdade e pelo Camões IP.
Entre as presenças previstas estarão a Associação Arrabenta Xithokozelo, Beatriz Garrido, Camila de Sousa, Camilo de Sousa, Francisco Noa, Movimento Literário Kuphaluxa, Nelson Saúte, Poetas d'Alma, Projecto Showesia.
Irmão de outro conhecido poeta moçambicano também já falecido, Orlando Mendes, João Mendes foi, segundo o jornal moçambicano A Verdade, «um dos primeiros presos políticos pelo sistema português, pelo seu envolvimento nos movimentos nacionalistas moçambicanos na luta pela liberdade» do povo moçambicano.
Foi um dos mentores do Movimento de Libertação Nacional (MLN), mais tarde instituído como Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que governa este país africano de língua portuguesa desde a independência em 1975.
«Ao lado de outros seus contemporâneos como Noémia de Sousa, José Craveirinha e Ricardo Rangel, semeou a consciência crítica sobre o estado da nação moçambicana que na década de 50 começava o seu difícil caminho para a libertação do colonialismo», diz uma nota de imprensa sobre a sessão, que tem o título ‘Para Não Esquecer’. «Pelas suas ideias políticas e pelo seu sentido de justiça social teve que enfrentar a prisão e depois o exílio, que o manteve afastado do seu país durante mais de vinte anos».
A sua obra poética foi reunida em 2004 no livro Ser, Poemas, e em 2007 publicou Donde para Onde - Tópicos para o Estudo do Movimento de Libertação Nacional Moçambicano, onde falou das origens do MLN, de que foi militante.
Segundo um estudo sobre a poetisa moçambicana Noémia, de Sousa de Anselmo Peres Alós, citando o escritor moçambicano Nelson Saúte, «João Mendes não escrevia, mas, em contrapartida, não poupava esforços no sentido de congregar a inteligentzia moçambicana que, àquela altura começava a construir a resistência ao colonialismo lusitano: em razão de seus esforços, João Mendes conseguiu pôr em diálogo os poetas da Polana ‘aristocrática’ e da empobrecida Mafalala, atividade que terminou por lhe render a deportação». Em Paris o livro La Revolution en Afrique: problémes et perspectives, em 1972.
Ao longo da sessão de homenagem a João Mendes será exibida a última entrevista sua em formato DVD realizada pelos discentes do Laboratório de Comunicação e Imagem ‘A Mundzuku ka Hina’. A sessão enquadra-se aliás no programa paralelo da Exposição de Fotografia “…Na poça de lama como no divino céu também passa a lua…”, recentemente apresentada pelo Laboratório no Camões IP em Maputo. João Mendes «acompanhou com interesse e dedicação a evolução do grupo de trabalho de jovens de Hulene que nele encontrou uma estimuladora fonte de inspiração para o seu trabalho», lê-se na nota de imprensa.
Participarão também «alguns convidados, entre contemporâneos de João Mendes e conhecedores do seu papel social, político e literário, que prestarão o seu direto contributo sobre a figura e obra do humanista e serão lidos alguns dos seus poemas, já datados, mas que continuam a representar uma acutilante visão crítica em relação ao nosso tempo».