Cerca de 40 propostas artísticas da «nova geração» de criadores portugueses, em vários domínios - cinema, artes plásticas, música, dança, performances e teatro –, vão estar em destaque em vários espaços de Paris durante a primeira quinzena de junho no âmbito dos Chantiers d’Europe, um «momento cultural» de que Portugal e Lisboa são este ano o foco.
Este projeto multidisciplinar promovido pelo Théâtre de la Ville de Paris, dirigido pelo luso-francês Emmanuel Demarcy-Mota, vem dar visibilidade aos jovens criadores portugueses, tendo em conta o sucesso alcançado pelas anteriores edições (2010 – Itália; 2011 – Grã-Bretanha; 2012 – Grécia), quer junto do grande público, quer junto dos profissionais e programadores artísticos.
Acolhendo os «artistas e companhias independentes da nova geração», a mostra apresenta-os «no começo das suas carreiras internacionais», que se esperam com futuro, segundo escreveu Demarcy-Mota, que fala de «um instantâneo, necessariamente não exaustivo, da jovem criação lisboeta em 2013».
Justificando a escolha de Portugal para país tema, Demarcy-Mota diz que se trata de «dar conta do dinamismo criativo» dos artistas portugueses, «tão importante – em todos os domínios – quanto amplamente ocultado pelo olhar quase exclusivamente económico lançado sobre este país desde há alguns anos». «Se Portugal é efetivamente atingido pela crise, em proporções difíceis de conceber» pelos franceses, «a resistência dos artistas faz nascer uma cena florescente, um ‘laboratório’ para as companhias emergentes, que deitam um verdadeiro olhar sobre o impacto social e político das suas criações, uma cena cuja independência faz a [sua] força», acrescenta o diretor do Théâtre de la Ville.
A geração de jovens criadores artísticos portugueses que vai ao Chantiers d’Europe pertence, segundo um texto de Jean-Marc Adolphe, jornalista e crítico francês de dança, e de Tiago Bartolomeu Costa, também jornalista e crítico português de teatro «a essa ‘Europa das margens’ que deu corpo à modernidade literária, de Pessoa a Kafka, de Joyce a Beckett».
Desenvolvendo-se «à margem dos grandes circuitos internacionais»,esta geração, cuja «diversidade», «singularidade» e «vitalidade» os Chantiers d’Europe querem mostrar, situa-se, no dizer dos dois críticos, depois daquela outra, de encenadores, coreógrafos, artistas plásticos, músicos e cineastas que, «à saída do salazarismo», foram «os artesãos de uma liberdade de criação reencontrada».
«Identidade em movimento»
Nesse sentido, «os espetáculos de Tiago Rodrigues, de Monica Calle, de Sofia Dias e Vitor Roriz, dos coletivos Teatro Praga, Bomba Suicida e Mala Voadora, de Joana Providência com Gémeo Luis prolongam e atualizam uma paisagem cénica plenamente inscrita na sua época. Longe das crispações identitárias e populistas de que o atual ‘estado de crise’ é o temível fermento».
Da vasta programação, acolhida, entre outras, por instituições muito conhecidas de Paris como o Palais de Tokyo, a Maison de la Radio, o Parc de Montsouris, o cinema MK2 Beaubourg e o Centquatre, destacam-se, na área do cinema, a apresentação de um programa de retrospetivas e a realização de sessões diárias de projeções de filmes recentes de Pedro Costa, Miguel Gomes, João Salaviza, João Canijo e João Botelho, entre outros, seguidas de debates.
O programa das artes plásticas inclui projetos de artistas consagrados (Vasco Araújo, João Onofre, André Godinho) e de artistas representativos da nova geração. No Théâtre de la Ville será apresentada a exposição Azulejo Português: diálogos contemporâneos, produzida pelo Camões, IP em parceria com o Museu Nacional do Azulejo. O Palais de Tokyo acolhe seis performances de artistas, «cuja prática explora o som e a palavra de formas múltiplas». São eles ‘A Kills B’, Ricardo Jacinto, Joana Bastos, Musa Paradisíaca, António Olaio e Francisco Tropa.
Realizar-se-ão concertos de Carminho, Lula Pena e Mísia e nos domínios do teatro e da dança destacam-se as apresentações pelo Teatro Praga (Eurovision, Discotheater), dos Grupos Bomba Suicida (Guintche, The Recoil Of Words) e Mala Voadora, (What I Heard About The World), de Joana Providência, Gémeo Luís e Eugénio Roda (Catabrisa), de Tiago Rodrigues (Três Dedos Abaixo do Joelho), as performances Sofia Dias & Vitor Roriz (A Gesture That Is Nothing But A Threat), Tânia Carvalho e Monica Calle (A Virgem Doida) e leituras da peça Terceira Idade, de José Maria Vieira Mendes.
No campo literário, António Lobo Antunes será evocado numa sessão de leitura da sua obra por Georges Lavaudant. Também André Murraças e Jacinto Lucas Pires terão os romances Império e Sagrada Família, respetivamente, lidas em sessões difundidas pela France Culture.
O projeto dos Chantiers d’Europe dedicado a Portugal tem o apoio das câmaras de Paris e Lisboa, do Institut Français, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Camões, IP.