Número 138 · 6 de Maio de 2009 · Suplemento do JL n.º 1007, ano XXIX
Exposição de fotografia de Patrícia Almeida no ‘Mois de l’image de Dieppe’
É-nos a um tempo familiar e estranho. Olhamos e reconhecemos, olhamos e perguntamos: ‘Quem é esta gente?’ A exposição fotográfica de Patrícia Almeida, Portobello, tem como tema o Algarve, não especificamente aquele Algarve, mas os algarves deste mundo – «poderia também ser a costa espanhola, grega ou brasileira…», segundo diz a fotógrafa (n. 1970), com uma licenciatura em História na Universidade Nova de Lisboa e o estudo de Imagem e Comunicação no Goldsmiths College, em Londres.
«Partindo de uma abordagem documental da fotografia, Portobello explora o fenómeno do turismo de Verão e o imaginário iconográfico a ele associado, cuja promoção institucional, baseada em técnicas de marketing, aborda a ideia de território em termos de ‘lugar-marca’ […] sem referências muitas precisas», diz a sinopse oficial da exposição, que acrescenta: «Portobello apresenta-se assim como um lugar à beira da ficção, simultaneamente real e inventado, uma espécie de \'parque temático\' sem temática, ancorado num imaginário colectivo relacionado com as férias, com o verão e construído a partir de estereótipos.»
Não havendo nenhum justificação para o título, Portobello – o nome de um dos mais famosos mercados de rua do mundo, situado em Londres, atracção turística por excelência – fica a explicação de David-Alexandre Guéniot, num dos dois textos que acompanham o livro, de um «nome genérico que evoca um vago exotismo latino, cidade ou região (italiana? espanhola? corsa? portuguesa? brasileira? mexicana?), hotel ou discoteca em que imaginamos o interior fora de moda e o néon sobre a fachada, ou um cocktail colorido (ilustrado por uma foto) numa lista de bebidas».
Só que quem vê, vê com os seus condicionalismos, e não admira assim que a crítica portuguesa diga que Patrícia Almeida «transporta-nos para um Algarve conhecido de todos» (Joana Lucas, Artecapital), o «Algarve dos ‘bifes’» (Celso Martins), das «imagens de terrenos baldios no limiar interior do Algarve» (José Marmeleira, L+Arte), «Algarve; a última colónia britânica, situada na ponta sul mais a ocidente da Europa» (Leonel de Jesus, TimeOut).
A proposta de Patrícia Almeida surge aparentemente como coerente com aquilo que tem sido o seu percurso, marcado pelo interesse pela «fotografia documental enquanto território de pesquisa e criação artística, realizando trabalhos que procuram questionar a relação do indivíduo com o espaço urbano (Esculturas [2000], Andar Modelo [2001], Locations [2000-2005])» ou ainda produzindo a série de fotografias do livro No Parking, editado em 2004 com o apoio do Centro Português de Fotografia, da Fundação Gulbenkian e da Fundação Oriente, diz a sua biografia.Um percurso reconhecido pelo convite para integrar em 2003 o colectivo de fotógrafos europeus P.O.C-Piece of Cake, compreendendo presentemente 21 «jovens artistas europeus cujo meio preferido é a fotografia» que «interagem ao criarem, produizirem e distribuírem os seus trabalhos».